quinta-feira, 22 de novembro de 2007

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Criação da marca VICTOR HUGO


Quem diria: Victor Hugo, sinônimo de bolsas chiques e caríssimas, existe, mora no Rio de Janeiro, driblou bem a competição com marcas como Gucci e Vuitton e planeja voar mais alto no ano que vem – registrou sua marca nos Estados Unidos e prepara uma linha de roupas e calçados. E se chama Victor Hugo mesmo, Alves Gonzalez de sobrenome. Aos 50 anos, o ex-hippie uruguaio só tem motivos para comemorar a decisão tomada na década de 70, quando deixou a fazenda dos pais para "buscar novos horizontes". No melhor estilo da época, desembarcou no Brasil com muitos planos e nenhum dinheiro. Foi vender jóias de prata (que fazia em casa) na Praça General Osório, no Rio de Janeiro, onde montava sua barraquinha todo final de semana, e na Praça da República, em São Paulo, onde aparecia eventualmente. Nos outros dias, carregava seus produtos nas costas e visitava cabeleireiros, galerias de arte e todos os lugares onde pudessem existir boas clientes. Bonitão e bom de papo, foi conhecendo as pessoas certas e ganhando freguesia. Hoje, tem duas fábricas no Rio de Janeiro, vinte lojas próprias e 24 licenciadas e 2 100 funcionários. Declara um faturamento anual de 50 milhões de dólares.
"Quando cheguei ao Rio, artesanato era moda e eu fazia jóias caras. Meus clientes sempre foram artistas e grã-finos", lembra. "Eu vivia como os clientes, gastava muitíssimo e nunca sobrava dinheiro." O estilo incluía um lado globe-trotter, com viagens freqüentes a Ibiza, Saint-Tropez, Paris e Londres, onde ele garante que conseguia se sustentar vendendo jóias. Nessas andanças, aprendeu várias línguas – fala fluentemente italiano, francês e inglês, além do espanhol original e do português –, conheceu muita gente e ampliou o leque de clientes. Conta que foi quando se preparava para uma dessas viagens que notou que, no Brasil, não havia malas ou bolsas de boa qualidade. Pronto: a barraquinha mudou de ramo.
A primeira bolsa Victor Hugo era uma espécie de baú com duas alcinhas. Seguindo o mesmo conceito das jóias, passou a fazer bolsas exclusivas, artesanais e, lógico, caras – uma bolsinha de couro custava o equivalente a 300 dólares. A promoter carioca Anna Maria Tornaghi confirma esse detalhe. "A primeira bolsa que comprei dele foi em uma galeria de arte. Eu estava com uma amiga e lembro que a bolsa era bem cara, porque a minha amiga até sugeriu que comprássemos uma só para nós duas – naquela época recebíamos mesada, e a mesada era pequena", rememora. Depois de vender de porta em porta, Victor Hugo passou a produzir pequenas coleções para lojas conhecidas, como Elle et Lui, Krishna e Via Veneto.
Com a marca mais ou menos firmada, Victor Hugo aposentou a barraquinha, montou uma fabriqueta e abriu a primeira loja em Ipanema, em 1975. Daí para a frente, cresceu sem parar, sempre fincado no nicho dos produtos de luxo – o preço médio de uma bolsa Victor Hugo é 500 reais, podendo chegar a 1 200 cobrados por um modelo de couro de avestruz. Enquanto os portos nacionais estavam fechados à importação, reinou sozinho, com bolsas notavelmente semelhantes às das grandes grifes internacionais – característica que ele mesmo reconhece. "Como eu era a única referência, não tinha nenhum problema minhas bolsas serem parecidas", diz. Mas ressalva: "Agora que estão chegando todas, tenho de fazer mais produtos personalizados". Nas prateleiras, porém, o que se vê ainda é muita inspiração, digamos, externa. Por que, então, alguém se dispõe a pagar caríssimo pelo VH (logo que lembra muito o LV, de Louis Vuitton)? Fidelidade, diz ele, e carteira recheada. "Quem pode comprar Victor Hugo não pensa em economizar", jacta-se.